EVANGELHO DE JESUS CRISTO

segunda-feira, 12 de novembro de 2018

O VINHO NOS TEMPOS DO NOVO TESTAMENTO 1

VINHO:FERMENTADO OU NÃO FERMENTADO?
Segue-se um exame da palavra bíblica mais comumente usada para "vinho", em LC 7.33, é oinos. Oinos pode se referir-se a dois tipos bem diferentes de suco de uva: 
(1) suco não fermentado, e 
(2) vinho fermentado ou embriagante. Esta definição apóia-se nos dados abaixo.
(1) A palavra grega oinos era usada pelos autores seculares e religiosos, antes da era cristã e nos tempos da igreja primitiva, em referência ao suco fresco da uva (ver Aristóteles, Metereologica, 387.b.9-13). 
(a) Anacreontes (c. de 500 a.C.) escreve: "Esprema a uva, deixe sair o vinho [oinos]" (Ode 5). 
(b) Nicandro (século II a.C.) escreve a respeito de espremer uvas e chama de oinos o suco daí produzido (Georgica, fragmento 86). 
(c) Papias (60-130 d.C.), um dos pais da igreja primitiva, menciona que quando as uvas são espremidas produzem "jarros de vinho [oinos]" (citado por Ireneu, Contra as Heresias, 5.33.3-4). 
(d) Uma carta em grego escrita em papiro (P. Oxy. 729; 137 d.C.), fala de "vinho [oinos] fresco, do tanque de espremer" (ver Moulton e Milligan, The Vocabulary of the Greek Testament, p.10). 
(e) Ateneu (200 d.C.) fala de um "vinho [oinos] doce", que "não deixa pesada a cabeça" (Ateneu, Banquete, 1.54). 
Noutro lugar, escreve a respeito de um homem que colhia uvas "acima e abaixo, pegando vinho [oinos] no campo" (1.54). 
Para considerações mais pormenorizadas sobre o uso de oinos pelos escritores antigos, ver Robert P. Teachout: "O Emprego da Palavra 'vinho' no Antigo Testamento". (Dissertação de Th.D. no Seminário Teológico de Dallas, 1979).
(2) Os eruditos judeus que traduziram o AT do hebraico para o grego c. de 200 a.C. empregaram a palavra oinos para traduzir várias palavras hebraicas que significam vinho (ver o estudo VINHO NOS TEMPOS DO ANTIGO TESTAMENTO).(EM BREVE). Noutras palavras, os escritores do NT entendiam que oinos pode referir-se ao suco de uva, com ou sem fermentação.
(3) Quando a literatura grega secular e religiosa, um exame de trechos do NT também revela que oinos pode significar vinho fermentado. 
Em Ef 5.18, o mandamento: "não vos embriagueis com vinho [oinos]" refere-se ao vinho alcoólico. Por outro lado, em Ap 19.15 Cristo é descrito pisando o lagar. 
O texto grego diz: "Ele pisa o lagar do vinho [oinos]"; o oinos que sai do lagar é suco de uva (ver Is 16.10 nota; Jr 48.32,33 nota). 
Em Ap 6.6, oinos refere-se ás uvas da videira como uma safra que não deve ser destruída. 
Logo, para os crentes dos tempos NT, "vinho" (oinos) era uma palavra genérica que podia ser usada para duas bebidas distintivamente diferentes, extraídas da uva:o vinho fermentado e o não fermentado. 
(4) Finalmente, os escritores romanos antigos explicam com detalhes vários processos usados para tratar o suco de uva recém-espremido, especialmente as maneiras de evitar sua fermentação. 
(a) Columela (Da Agricultura, 12.29), sabendo que o suco de uva não fermentado quando mantido frio (abaixo de 10 graus C.) e livre de oxigênio, escreve da seguinte maneira: 
"Para que o suco de uva sempre permaneça tão doce como quando produzido, siga estas instruções: Depois de aplicar a prensa ás uvas, separe o mosto mais novo [i.e., suco fresco], coloque-o num vasilhame (amphora) novo, tampe-o bem e revista-o muito cuidadosamente com piche para não deixar a mínima gota de água entrar; em seguida, mergulhe-o numa cisterna ou tanque de água fria, e não deixe nenhuma parte da ânfora ficar acima da superfície. Tire a ânfora depois de quarenta dias. 
O suco permanecerá doce durante um ano" (ver também Columela: 
Agricultura e Árvores; Catão: Da Agricultura). O escritor romano Plínio (século I d.C.) escreve: 
"Tão logo tiram o mosto [suco de uva] do lagar, colocam-no em tonéis, deixam estes submersos na água até passar as primeiras metade do inverno, quando o tempo frio se instala" (Plínio, História Natural, 14.11.83). 
Este método deve ter funcionado bem na terra de Israel (ver Dt 8.7; 11.11,12; Sl 65.9-13.
(b) Outro método de impedir a fermentação das uvas é fervê-las e fazer um xarope (para mais detalhes, ver o estudo O VINHO NOS TEMPOS DO NOVO TESTAMENTO 2) Historiadores antigos chamavam esse produto de "vinho" (oinos). 
O Cônego Farrar (Smith's Bible Dictionary,p.747) declara que "os vinhos assemelhavam-se mais a xarope; muitos deles não eram embriagantes".
Ainda, O Novo Dicionário da Bíblia (p. 1665), observa que "sempre havia meios de conservar doce o vinho durante o ano inteiro".
O USO DO VINHO NA CEIA DO SENHOR.
Jesus usou uma bebida fermentada ou não fermentada de uvas, ao instituir a Ceia do Senhor (Mt 26.26-29; Mc 14.22-25; Lc 22.17-20; 1 Co 11.23-26)? Os dados abaixo levam à conclusão de que Jesus e seus discípulos beberam no dito ato suco de uva não fermentado.
(1) Nem Lucas nem qualquer outro escritor bíblico emprega a palavra "vinho" (gr.oinos) no tocante à Ceia do Senhor. 
Os escritores dos três primeiros Evangelhos empregam a expressão "fruto da vide" (Mt 26.29; Mc 14.25; Lc 22.18). 
O vinho não fermentado é o único "fruto da vide" verdadeiramente natural, contendo aproximadamente 20% de açúcar e nenhum álcool.
A fermentação destrói boa parte do açúcar e altera aquilo que a videira produz.
O vinho fermentado não é produzido pela videira.
(2) Jesus instituiu a Ceia do Senhor quando Ele e seus discípulos estavam celebrando a Páscoa. A lei da Páscoa em Êx 12.14-20 proibia, durante a semana daquele evento, a presença de seor (Êx 12.15), palavra hebraica para fermento ou qualquer agente fermentador. seor, no mundo antigo, era frequentemente obtido da espuma espessa da superfície do vinho quando em fermentação. Além disso, todo o hametz (i.e., qualquer coisa fermentada) era proibido (Êx 12.19; 13.7). Deus dera essas leis a fermentação simbolizava a corrupção e o pecado (cf. Mt 16.6,12; 1 Co 5.7,8). Jesus, o Filho de Deus, cumpriu a lei em todas as suas exigências (Mt 5.17). Logo, teria cumprido a lei de Deus para a Páscoa, e não teria usado vinho fermentado.
(3) Um intenso debate perpassa os séculos entre os rabinos e estudiosos judaicos sobre a proibição ou não dos derivados fermentados da videira durante a Páscoa.
Aqueles que sustentam uma interpretação mais rigorosa e literal das Escrituras hebraicas, especialmente Êx 13.7, declaram que nenhum vinho fermentado devia ser usado nessa ocasião.
(4) Certos documentos judaicos afirmam que o uso do vinho não fermentado na Páscoa era comum nos tempos do NT. Por exemplo: "Segundo os Evangelhos sinóticos, parece que no entardecer da quinta-feira da última semana de vida aqui, Jesus entrou com seus discípulos em Jerusalém, para com eles comer a Páscoa na cidade santa; neste caso, o pão e o vinho do culto de Santa Ceia instituído naquela ocasião por Ele, como memorial, seria o pão asmo e o vinho não fermentado do culto Seder" (ver "Jesus".The Jewish Encyclopaedia, edição de 1904. V.165).
(5) No AT, bebida fermentada nunca devia ser usadas na casa de Deus, e um sacerdote não podia chegar-se a Deus em adoração se tomasse bebida embriagante (Lv 10.9 nota).
Jesus Cristo foi o Sumo Sacerdote de Deus do novo concerto, e chegou-se a Deus em favor do seu povo (Hb 3.1; 5.1-10).
(6) O valor de um símbolo se determina pela sua capacidade de conceituar a realidade espiritual.
Logo, assim como o pão representava o corpo puro de Cristo e tinha que ser pão asmo (i.e., sem a corrupção da fermentação), o fruto da vide, representando o sangue incorruptível de Cristo, seria melhor representado por suco de uva não fermentado (cf. 1 Pe 1.18,19).
Uma vez que as Escrituras declaram que explicitamente que o corpo e sangue de Cristo não experimentaram corrupção (Sl 16.10; At 2.27; 13.37), esses dois elementos são corretamente simbolizados por aquilo que não é corrompido nem fermentado.
(7) Paulo determinou que os coríntios tirassem dentre eles o fermento espiritual, i.e., o agente fermentador "da maldade e da malícia", porque Cristo é a nossa Páscoa (1 Co 5.6-8).
Seria contraditório usar na Ceia do Senhor um símbolo da maldade, i.e., algo contendo levedura ou fermento, se considerarmos os objetivos dessa ordenança do Senhor, bem como as exigências bíblicas para dela participarmos.
Para mais sobre o vinho nos tempos do NT, ver o estudo O VINHO NOS TEMPOS DO NOVO TESTAMENTO 2.


domingo, 11 de novembro de 2018

O VINHO NOS TEMPOS DO NOVO TESTAMENTO 2

O VINHO: MISTURADO OU INTEGRAL?
Os dados históricos sobre o preparo e uso do vinho pelos judeus e por outras nações no mundo bíblico mostram que o vinho era: (a) frequentemente não fermentado; e (b) em geral misturado com água. O estudo anterior O VINHO NOS TEMPOS DO NOVO TESTAMENTO 1, aborda um dos processos usados para manter o suco da uva fresco em estado doce e sem fermentação. 
O presente estudo menciona dois outros processos de preparação da uva para posteriormente ser misturada com água.
(1) Um dos métodos era desidratar as uvas, borrifá-las com azeite para mantê-las úmidas e guardá-las em jarras de cerâmica (Enciclopédia Bíblica Ilustrada de Zondervan, V. 882; ver também Columella, Sobre a Agricultura 12.44.1-8). 
Em qualquer ocasião, podia-se fazer uma bebida muito doce de uvas assim conservadas. Punha-se água e deixava-as de molho ou na fervura. Políbio afirmou que as mulheres romanas podiam beber desse tipo de refresco de uva, mas que eram proibidas de beber vinho fermentado (ver Políbio, Fragmentos, 6.4; cf. Plínio, História Natural, 14.11.81).
(2) Outro método era ferver suco fresco até se tornar em pasta ou xarope grosso (mel de uvas); este processo deixava-o em condições de ser armazenado, ficando isento de qualquer propriedade inebriante por causa da alta concentração de açúcar, e conservava a sua doçura (ver Columella, Sobre a Agricultura, 12.19.1-6;20.1-8; Plínio, História Natural, 14.11.80). Essa pasta ficava armazenada em jarras grandes ou odres. 
Podia ser usada como geleia para passar no pão, ou dissolvida em água para voltar o estado de suco de uva (Enciclopédia Bíblica Ilustrada, de Zondervan, V. 882-884). É provável que a uva fosse muito cultivada para produção de açúcar. 
O suco extraído no lagar era engrossado pela fervura até tornar-se em líquido conhecido como "mel de uvas" (Enciclopédia Geral Internacional da Bíblia, V.3050). 
Referências ao mel na Bíblia frequentemente indicam o mel de uva (chamado debash pelos judeus), em vez do mel de abelha.
(3) A água, portanto, pode ser adicionada a uvas desidratadas, ao xarope de uvas e ao vinho fermentado. Autores gregos e romanos citavam várias proporções de mistura adotadas. 
Homero (Odsséia, IX 208ss.) menciona uma proporção de vinte partes de água para uma parte de vinho. Plutarco (Symposíacas,III.ix) declara: "Chamamos vinho diluído, embora o maior componente seja a água para uma de vinho. 
(4) Entre os judeus dos tempos bíblicos, os costumes sociais e religiosos não permitiam o uso de vinho puro, fermentado ou não. 
O Talmude (uma obra judaica que trata das tradições do judaísmo entre 200 a.C. e 200 d.C.) fala, em vários trechos, da mistura de água com vinho (e.g., Shabbath 77a; Pasahim 1086). 
Certos rabinos insistiam que, se o vinho fermentado não fosse misturado com três partes de água, não podia ser abençoado e contaminaria quem o bebesse. Outros rabinos exigiam dez partes de água no vinho fermentado para poder ser consumido.
(5) Um texto interessante temos no livro de Apocalipse, quando um anjo, falando do "vinho da ira de Deus", declara que ele será "não misturado", i.e., totalmente puro (Ap 14.10). 
Foi assim expresso porque os leitores da época entendiam que as bebidas derivadas de uvas eram misturadas com água (ver Jo 2.3 nota).
Em resumo, o tipo de vinho usado pelos judeus nos dias Bíblia não era idêntico ao de hoje.
Tratava-se de (a) suco de uva recém-espremido; (b) suco de uva assim conservado; (c) suco obtido de uva tipo passas; (d) vinho de uva feito do seu xarope, misturado com água; e (e) vinho velho, fermentado ou não, diluído em água, numa proporção de até 20 para 1. 
Se o vinho fermentado fosse servido diluído, isso era considerado indelicadeza, contaminação e não podia ser abençoado pelos rabinos. À luz desses fatos, é ilícita a prática corrente de ingestão de bebidas alcoólicas com base no uso do "vinho" pelos judeus dos tempos bíblicos.
Além disso, os cristãos dos dias bíblicos eram mais cautelosos do que os judeus quanto ao uso do vinho (ver Rm 14.21 nota; 1 Ts 5.6 nota; 1 Tm 3.3 nota; Tt 2.2 nota).
A GLÓRIA DE JESUS MANIFESTA ATRAVÉS DO VINHO.
Em Jo 2, vemos que Jesus transformou água em "vinho" nas bodas de Caná. Que tipo de vinho era esse? Conforme já vimos, podia ser fermentado ou não, concentrado ou diluído. 
A resposta deve ser  determinada pelos fatos contextuais e pela probabilidade moral. A posição desta Bíblia de estudo é que Jesus fez vinho (oinos) suco de uva integral e sem fermentação. Os dados que se seguem apresentam fortes razões para rejeição da opinião de que Jesus fez vinho embriagante.
(1) O objetivo primordial desse milagre foi manifestar a sua glória (2.11), de modo a despertar fé pessoal e a confiança em Jesus como Filho de Deus, santo e justo, que veio salvar o seu povo do pecado (2.11; cf. Mt 1.21). 
Sugerir que Cristo manifestou a sua divindade como o Filho Unigênito do Pai (1.14), mediante a criação milagrosa de inúmeros litros de vinho embriagante para uma festa de bebedeiras (2.10 nota; onde subentende-se que os convidados já tinham bebido muito), e que tal milagre era extremamente importante para sua missão messiânica, requer um grau de desrespeito, e poucos se atreveriam a tanto. Será, porém, um testemunho da honra de Deus, e da honra e glória de Cristo, crer que Ele criou sobrenaturalmente o mesmo suco de uva que Deus produz anualmente através da ordem natural criada (ver 2.3 nota). 
Portanto, esse milagre destaca a soberania de Deus no mundo natural, tornando-se um símbolo de Cristo para transformar espiritualmente pecadores em filhos de Deus (3.1-15). 
Devido a esse milagre, vemos a glória de Cristo "como a glória do Unigênito do Pai" (1.14; cf. 2.11).
(2) Contraria a revelação bíblica quando a perfeita obediência de Cristo a seu Pai celestial (cf. 4.34; Fp 2.8,9) supor que Ele desobedeceu ao mandamento moral do Pai: "Não olhes para o vinho, quando se mostra vermelho... e se escoa suavemente", i.e., quando é fermentado (Pv 23.31).
 Cristo por certo sancionou os textos bíblicos que condenam o vinho embriagante como dá de beber ao seu companheiro!... e o embebedas" (cf. Lv 10.8-11; Pv 31.4-7; Is 28.7; Rm 14.21).
(3) Note, ainda, o seguinte testemunho da medicina moderna. (a) Os maiores médicos especialistas atuais em defeitos congênitos citam evidências comprovadas de que o consumo moderado de álcool danifica o sistema reprodutivo das mulheres jovens, provocando abortos e nascimentos de bebês com defeitos mentais e físicos incuráveis. 
Autoridades mundialmente conhecidas em embriologia precoce afirmam que as mulheres que bebem até mesmo quantidades moderadas de álcool, próximo ao tempo da concepção (c. 48 horas), podem lesar os cromossomos de um óvulo em fase de liberação, e daí causar sérios distúrbios no desenvolvimento mental e físico do nenê. 
(b) Seria teologicamente absurdo afirmar que Jesus haja servido bebidas alcoólicas, contribuindo para o seu uso. 
Afirmar que Ele não sabia dos danos em potencial e dos resultados deformadores do álcool, e que, mesmo assim, promoveu e fomentou seu uso, é lançar dúvidas sobre a sua bondade, compaixão e seu amor.
A única conclusão racional, bíblica e teológica acercada é que o vinho que Cristo fez nas bodas, a fim de manifestar a sua glória, foi o suco puro e doce de uva, e não fermentado.

Conjuntamente com este estudo, o leitor deve ler O VINHO NOS TEMPOS DO NOVO TESTAMENTO 1
EM BREVE.
DEUS OS ABENÇOE!

sábado, 10 de novembro de 2018

CRISTO NO ANTIGO TESTAMENTO (PARTE FINAL 2)

CRISTO NO ANTIGO TESTAMENTO
Um dos ensinos fundamentais do NT é que Jesus Cristo (o Messias)
é o cumprimento do AT. O livro de Hebreus mostra que Cristo é o herdeiro de tudo o que Deus falou através dos profetas (Hb 1.1,2). O próprio Jesus asseverou que viera para cumprir a lei e os profetas (Mt 5.17). 
Após a sua gloriosa ressurreição, Ele demonstrou aos seus seguidores, tendo por base a lei de Moisés, os profetas e os salmos, i.e., as três principais divisões do AT (hebraico) que Deus predissera, há muito tempo, tudo quanto lhe havia sucedido (Lc 24.25-27,44-46). 
Para melhor compreendermos as profecias do AT a respeito de Jesus Cristo, precisamos ver algo da tipologia bíblica.
CONTINUAÇÃO.
CATEGORIAS DE TIPOS PROFÉTICOS
Há pelo menos quatro formas pelas quais o AT prenuncia e profetiza a vinda de Cristo para o NT:
(1) Textos específicos do AT citados no NT. Certos trechos do AT são manifestamente profecias sobre Cristo, porque o NT os cita como tais. 
Por exemplo, Mateus cita Is 7.14 para comprovar que o AT profetizava aí o nascimento virginal de Cristo (Mt 1.23), e Mq 5.2 para comprovar que Jesus devia nascer em Belém (Mt 2.6) Marcos observa aos seus leitores (Mc 1.2,3) que a vinda de João Batista como precursor de Cristo fora profetizada tanto por Isaías (Is 40.3), quanto por Malaquias (Ml 3.1). Zacarias predisse a entrada triunfante de Jeus em Jerusalém no domingo que precede a Páscoa (Zc 9.9; cf. Mt 21.1-5; Jo 12.14,15). 
A experiência de Davi, descrita no Sl 22.18, prenuncia os soldados ao derredor da cruz, dividindo entre si as vestes de Jesus (Jo 19.23,24), e sua declaração no Sl 16.8-11 é interpretada como uma clara predição da ressurreição de Jesus (At 2.25-32; 13.35-37). O livro de Hebreus afirma que Melquisedeque (cf. Gn 14.18-20; Sl 110.4) é um tipo de Cristo, nosso eterno Sumo Sacerdote. Muitos outros exemplos poderiam ser citados.
(2) Alusões a passagens do AT pelos escritores do NT. Outra forma de revelação de Cristo no AT consiste em passos do NT que, mesmo sem citação direta, referem-se a pessoas, eventos, ou objetos do AT prefigurando profeticamente a Cristo. 
Por exemplo, no primeiro de todos os textos proféticos da Bíblia (Gn 3.15), Deus promete que enviará o descendente da mulher para ferir a cabeça da serpente. 
Certamente, Paulo tinha em mente esse trecho quando declarou que Cristo nasceu de mulher para redimir os que estavam debaixo da lei (Gl 4.4,5; cf. Rm 16.20). 
João igualmente, declara que o Filho de Deus veio "para desfazer as obras do diabo" (1 Jo 3.8). 
A referência de João Batista a Jesus como Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo (Jo 1.29,36), recua a Lv 16 e Is 53.7. A referência de Paulo a Jesus como "nossa páscoa" (1 Co 5.7) revela que o sacrifício do cordeiro pascal profetizava a morte de Cristo em nosso favor (Êx 12.1-14). 
O próprio Jesus declarou que o ato de Moisés, ao levantar a serpente no deserto (Nm 21.4-9) era uma profecia a respeito dEle, quando pendurado na cruz. 
E quando João diz que Jesus, o Verbo de Deus, participou da criação de todas as coisas (Jo 1.1-3), não podemos deixar de pensar em Sl 33.6: "Pela palavra do SENHOR foram feitos oa céus" (cf. Hb 1.3,10-12). 
Essas são apenas algumas das alusões no NT a passos do AT referentes a Cristo.
(3) Pessoas, eventos, ou objetivos do AT que apontam para a redenção. O êxodo de Israel do Egito, que em todo o AT é visto como o maior evento redentor do antigo concerto, prefigura Cristo e a redenção que Ele efetuou no novo concerto. 
Alguns tipos do livro de Êxodo que prenunciam Cristo e sua obra redentora são: Moisés, a Páscoa, a travessia do mar Vermelho, o maná, a água que brotou da rocha, o Tabernáculo com seus pertences e o sumo sacerdote.
(4)Eventos do AT que prefiguram o modo de Deus lidar com o crente em Cristo. Muitos fatos do AT constituem uma das formas de Deus lidar com seu povo, tendo seu real cumprimento em Jesus Cristo. 
Note os seguintes exemplos: 
(a) Abraão teve de esperar com paciência por quase vinte e cinco anos até Deus sarar a madre de Sara e lhes dá Isaque. 
Abraão nada poderia fazer para apressar o nascimento do filho prometido por Deus. 
Fato idêntico cumpriu-se no NT, quando Deus enviou seu próprio Filho como Salvador do mundo, ao chegar a plenitude dos tempos (Gl 4.4); o ser humano nada podia fazer para apressar esse momento. Nossa salvação é obra única e exclusiva de Deus (cf. Jo 3.16), e jamais pelo esforço humano. 
(b) Antes dos israelitas serem libertos do Egito pelo poder gracioso de Deus, em aflição eles clamavam por socorro contra seus inimigos (Êx 2.23,24; 3.7). 
Temos aí um indício profético do plano divino da nossa redenção em Cristo. O pecador, antes do seu livramento pela graça de Deus, do jugo do pecado e dos inimigos espirituais, precisa clamar arrependido e recorrer à graça salvífica de Deus (cf. At 2.37,38; 16.29-32; 17.30,31). 
Todos aqueles que invocarem o nome do Senhor serão salvos. (c) Quando Naamã, o siro, buscou a cura da sua lepra, recorrendo ao Deus de Israel, recebeu a ordem de lavar-se sete vezes no rio Jordão. 
Essa ordem inicialmente provocou ira nele, o qual a seguir, humilhou-se e submeteu-se ao banho no Jordão, para ser curado (1 Rs 5.1-14). 
No fato de graça salvífica de Deus transpor os limites da nação de Israel, temos uma antevisão de Jesus e o novo concerto (cf. Lc 4.27; At 22.21; Rm 15.8-12), e também do fato que, para recebermos a salvação, precisamos renunciar ao orgulho, humilhar-nos diante de Deus (cf. Tg 4.10; 1 Pe 5.6) e receber a purificação pelo sangue de Jesus (cf. At 22.16; 1 Co 6.11; Tt 3.5; 1 Jo 1.7,9; Ap 1.5).
Em resumo: O AT narra histórias de pessoas piedosas que nos servem de modelo e exemplo (cf. 1 Co 10.1-13; Hb 11; Tg 5.16-18), mas ele vai além disso; ele (o AT) "nos serviu de aio, para nos conduzir a Cristo, para que, pela fé, fôssemos justificados" (Gl 3.24).