A outorga do Espírito Santo por Jesus aos seus discípulos no dia da ressurreição não foi o batismo no Espírito Santo como ocorreu no dia de Pentecoste (At 1.5; 2.4). Era, realmente, a primeira vez que a presença regeneradora do Espírito Santo e a nova vida do Cristo ressurreto saturavam e permeavam os discípulos.
- Durante a última reunião de Jesus com seus discípulos, antes da sua paixão e crucificação, Ele lhes prometeu que receberiam o Espírito Santo, como aquele que os regeneraria: "habita convosco, e estará em vós" ( 14.17 veja nota). Jesus agora cumpre aquela promessa.
- Da frase, "assoprou sobre eles", em 20.22, infere-se que se trata da sua regeneração. A palavra grega traduzida por "sopro" (emphusao) é o mesmo verbo usado na Septuaginta (a tradução grega do AT) em Gn 2.7, onde Deus "soprou em seus narizes [de Adão] o fôlego da vida; e o homem foi feito alma vivente". É o mesmo verbo que se acha em Ez 37.9: "Assopra sobre estes mortos, para que vivam". O uso que João faz deste verbo neste versículo indica que Jesus estava outorgando o Espírito a fim de neles produzir nova vida e nova criação. Isto é, assim como Deus soprou para dentro do homem físico o fôlego de vida, e o homem se tronou uma nova criatura (Gn 2.7), assim também, agora, Jesus soprou espiritualmente sobre os discípulos, e eles se tornaram novas criaturas (ver estudo A REGENERAÇÃO). Mediante sua ressurreição, Jesus tornou-se em "espírito vivificante" (1 Co 15.45).
- O imperativo " Recebei o Espírito Santo" estabelece o fato que o Espírito, naquele momento histórico, entrou de maneira inédita nos discípulos, para neles habitar. A forma verbal de "receber" está no aoristo imperativo (gr. lebete, do verbo lambano), que denota um ato único de recebimento. Este "recebimento" da vida pelo Espírito Santo antecede a outorga da autoridade de Jesus para eles (Jo 20.23), bem como no batismo com Espírito Santo, pouco depois, no dia de Pentecoste (At 2.4).
- Antes dessa ocasião, os discípulos eram verdadeiros crentes em Cristo, e seus seguidores, segundo os preceitos do antigo concerto. Porém, eles não eram plenamente regenerados no sentido da nova aliança. A partir de então os discípulos passaram a participar dos benefícios do novo concerto baseado na morte e ressurreição de Jesus (ver Mt 26.28; Lc 22.20; 1 Co 11.25; Ef 2.15,16; Hb 9.15-17; ver estudo A REGENERAÇÃO). Foi, também, nessa ocasião, e não no Pentecoste, que a igreja nasceu, i.e., uma nova ordem espiritual, assim como no princípio Deus soprou sobre o homem atém então inerte para de fato torná-lo criatura vivente na ordem material (Gn 2.7).
- Este trecho é essencial para a compreensão do ministério do Espírito Santo entre o povo de Deus: (a) os discípulos receberam o Espírito Santo (i.e., o Espírito Santo passou a habitar neles e os regenerou) antes do dia de Pentecostes; e (b) o derramamento do Espírito Santo em At 2.4. Isto seguiu-se á primeira experiência. O batismo no Espírito Santo no dia do Pentecoste foi, portanto, uma segunda e distinta obra do Espírito neles.
- Estas duas obras distintas do Espírito Santo na vida dos discípulos de Jesus são normativas para todo cristão. Isto é, todos os autênticos crentes recebem o Espírito Santo ao serem regenerados, e a seguir precisam experimentar o batismo no Espírito Santo para receberem poder para serem suas testemunhas (At 1.5,8; 2.4; ver 2.39 nota).
- Não há qualquer fundamento bíblico para se dizer que a outorga por Jesus do Espírito Santo em 20.22 era então somente uma profecia simbólica da vinda do Espírito Santo no Pentecoste. O uso do aoristo imperativo para "receber" (ver supra) denota o recebimento naquele momento e naquele lugar.